[SIN] KILLER: Entrevista com Sandro Baggio - [Sacred Sound site]

terça-feira, maio 01, 2007

Entrevista com Sandro Baggio - [Sacred Sound site]

pic:. Ronei Jr.[[É um privilégio ter em nossos veículos um dos maiores pensadores cristãos deste País, o pastor Sandro Baggio. Ele foi durante muito tempo responsável pela Secretaria de Missões da Igreja do Evangelho Quadrangular (IEQ), uma das mais antigas e respeitáveis denominações evangélicas do Brasil. Sandro está à frente do Projeto 242. Nesta oportunidade, pudemos conversar sobre diversos assuntos inquietantes, desde rock cristão, política e meio ambiente até aos limites da liberdade de expressão dos membros de igrejas. É uma oportunidade única de você pensar, coisa cada vez mais difícil de se fazer no meio evangélico atual.]]
http://www.projeto242.com/

SACRED SOUND - Como você se tornou pastor?
Eu senti a vocação ministerial bem cedo em minha vida, logo após a minha conversão aos 14 anos. Comecei a orar, ler muito e buscar conselhos com o meu pastor sobre isso e quatro anos mais tarde, após uma viagem missionária de férias ao Paraguai, fui para um seminário teológico no Rio de Janeiro onde estudei teologia com ênfase em missões transculturais. Quando me formei fui ordenado pela minha igreja local e enviado para o serviço missionário.

SACRED SOUND - A Igreja Quadrangular vê com bons olhos sua ligação com o movimento do rock cristão, ou houve discriminação por parte de outros pastores da ala mais conservadora?

A IEQ foi fundada por uma missionária canadense que acreditava no evangelismo criativo. Então, acredito que no DNA da igreja existe essa abertura para a contextualização do Evangelho e para criatividade na comunicação. Há também uma maior abertura para questões relacionadas a costumes e culturas. Por isso, nunca me senti discriminado por ninguém na igreja. Sempre tive o apoio e liberdade para seguir o chamado de Deus para a minha vida.

SACRED SOUND - O Projeto 242 realiza alguns eventos nos quais mesclam-se bandas evangélicas, católicas e seculares, coisa que normalmente não ocorre nos círculos evangélicos e católicos. Eu gostaria de saber o por quê. Qual é a visão da Comunidade (além, é claro, daquela conversa, repetida mil vezes, de convivência pacífica entre as religiões)?

O fato de convidarmos não apenas bandas evangélicas para participar de nossos eventos é fruto de nosso entendimento eclesiológico. Acreditamos que o local onde nos reunimos é somente isso, um local. Nós é que somos a igreja. Nós não vamos à igreja; somos a igreja. Locais, instrumentos, utensílios são apenas isso. Tem pessoas ainda hoje que vivem sob uma perspectiva veterotestamentária de consagrar essas coisas. Mas nós cremos na consagração de vidas e não de objetos/locais. Sendo assim, em primeiro lugar, não sentimos que estamos "profanando" nosso espaço quando convidamos bandas que não são cristãs a compartilhar de sua arte conosco. Em segundo lugar, acreditamos na hospitalidade. E hospitalidade bíblica é justamente isso, abrir a porta para o estrangeiro. Receber o cristão entre nós é comunhão. É quando recebemos aqueles que não partilham ainda da mesma fé que nós, que estamos praticando hospitalidade. E queremos praticar a hospitalidade como uma oportunidade para que as pessoas possam conhecer a razão de nossa esperança. Mas isso não tem nada a ver com ser politicamente correto ou ecumênico. Acreditamos firmemente que Jesus é o único caminho a Deus. Eu disse Jesus, e não uma igreja, tradição, denominação ou religião.

SACRED SOUND - Como você julga a participação de evangélicos e católicos, especialmente de líderes, na política? É certo misturar política e religião, ou o estado deve ser laico?

Essa é uma pergunta que tem levantado opiniões diferentes e muita controvérsia. Eu creio que o cristão precisa viver de maneira que sua fé governe toda a sua vida. Acredito que se Cristo é Senhor, então ele é Senhor de toda a minha vida e não apenas de uma parte dela. Tudo o que sou e tudo o que faço precisam estar submissos a Cristo. Sendo assim, não há como dissociar minha fé de certas áreas da vida, como a política, por exemplo. Como cristão é minha responsabilidade votar conscientemente, em busca de justiça e dos interesses de toda a sociedade e não apenas da igreja. Por este motivo não concordo em usar a igreja para promover políticos, nem que candidatos políticos usem títulos como "pastor", "bispo", etc., para se promoverem a cargos públicos. Infelizmente, a participação dos evangélicos na política brasileira tem sido, com raras exceções, catastrófica até aqui, como mostra o sociólogo cristão Paul Freston.

SACRED SOUND - "Feliz é a nação cujo Deus é o Senhor" é um texto da Bíblia usado no jargão de políticos e líderes cristãos. Esse versículo se aplica ao Brasil? Ou só é válido para uma nação teocrática e agrária, como o antigo Israel de três mil anos atrás?

Sem dúvida, se trata de um texto bíblico com implicações claras à nação de Israel no Velho Testamento. O curioso é que a Igreja é chamada no Novo Testamento de "nação santa". Ou seja, em vez de ficar tentando encaixar este texto na geografia política, seria mais ortodoxo olhar para a Igreja, povo de Deus, como povo abençoado (feliz) por ter Deus como seu Senhor. Em outras palavras, creio que esse versículo se aplica não ao Brasil (ou qualquer outra nação política), mas a todos os brasileiros, americanos, asiáticos, africanos, europeus, todos os homens de todas as épocas e povos que fazem de Deus o Seu Deus e de Jesus o Senhor de suas vidas.

SACRED SOUND - Temos em nosso site uma coluna dedicada à problemática ecológica. Você se preocupa com isso? Os cristãos têm se engajado na defesa do meio ambiente? Ou será que só estão mais preocupados em "ganhar almas para o reino dos Céus", esquecendo-se da Terra, da devastação de florestas, poluição, etc?

Um dos primeiros mandatos de Deus para o homem foi com relação à natureza, cuidar da terra. Infelizmente, esse mandato tem sido negligenciado pela maioria dos cristãos. Francis Schaeffer escreveu um excelente livro chamado "Poluição e a Morte do Homem", onde ele nos lembra que devemos ser mordomos da natureza. Dietrich Bonhoeffer disse que "o homem íntegro é aquele que vive para as gerações futuras". Como poderíamos viver hoje para as gerações futuras sem nos preocupar com questões como o desperdício da água potável ou a destruição da floresta amazônica, algo que terá conseqüências profundas para as gerações de nossos filhos e netos daqui a 30-40 anos?

SACRED SOUND - Como você se envolveu com o rock?

A música rock foi o primeiro estilo musical que eu passei a gostar na minha infância e ficou comigo até hoje. Quando me converti, o rock era muito mal visto pela comunidade cristã. Eu mesmo participei de um movimento para desmascarar os perigos da música rock. Era incrível, pois eu estava lutando contra algo que eu gostava muito. Mais tarde, percebi que isso era um grande equívoco provocado por idéias infundadas e preconceitos religiosos. Descobri artistas e grupos cristãos como o Petra, Whiteheart, Steve Taylor e Mylon Lefevre, que usavam o rock para glória de Deus. Mais tarde vieram Stryper e toda uma leva de bandas de hard rock e metal e o resto é história.

SACRED SOUND - Conte para os leitores mais jovens um pouco do que era o "Refúgio do Rock".

O Refúgio do Rock foi um ministério evangelístico da IEQ do Ipiranga, quando eu era um dos pastores dessa igreja. O pastor sênior foi tremendamente ousado e abriu espaço para que eu começasse esse ministério, e fomos possivelmente a primeira igreja evangélica neste país a ter bandas de death e grind metal tocando em seu interior. O primeiro show do Refúgio do Rock foi com o Devilcrusher, que estava estreando como banda, e com o Justa Advertência, banda punk rock de Campinas. Todas as sexta-feiras tínhamos shows com bandas como Martíria, Calvário, Metabole, Kolapso, Êxodo, Kletos, Sórdidos (cujos membros formaram depois a banda ChipSetZero), Rosa de Saron, Kipper, Ligação, Necromanicide, etc. Um dos primeiros shows do Antidemon foi no Refúgio do Rock. Tivemos a oportunidade também de hospedar o único show do Tourniquet no Brasil, com sua formação clássica, em 1995. Foi um tempo muito precioso e ainda hoje encontro pessoas que foram tocadas por Deus através daquele ministério.

SACRED SOUND - Se você soubesse que alguém que vai sempre ao Projeto 2:42 nutre posições pessoais diferentes das defendidas pela Igreja, o que você faria? Teria por exemplo, um membro do 2:42 o direito de ser evolucionista, há direito ao livre pensamento?

Eu acredito no que alguém muito mais maduro e sábio do que eu disse: "No essencial, unidade; no não-essencial, flexibilidade; em todas as coisas, o amor." (John Stott) Acredito que uma comunidade cristã precisa ser um local onde as pessoas crescem juntas, estão dispostas a aprender umas com as outras, onde haja liberdade de expressão, mas também humildade para reconhecer os próprios erros e entender que há mais mistérios sobre Deus e a fé do que a maioria de nós gostaria de admitir. Há coisas que são essenciais e que nos unem como comunidade e projeto, e acho que se as pessoas não compartilham desses essenciais, então possivelmente elas não irão querer caminhar conosco. Mas há muito espaço e flexibilidade para os não-essenciais e, espero eu, um desejo sincero de que nossos relacionamentos tanto com os que concordam conosco como com os que discordam sejam permeados pelo amor.

(Entrevista por FC)
http://www.sacredsound.com.br/artigo.htm

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