W.A.S.P. "30 Anos de trovão" é o nome da série de quinze textos que Blackie Lawless está publicando no "Official W.A.S.P. Nation Website" para comemorar o vindouro trigésimo aniversário de seu grupo, a se realizar em setembro de 2012. Todo mês o guitarrista, vocalista, produtor e lider do W.A.S.P. escreve um episódio contando o caminho que sua banda fez até se tornar umas das mais importantes do mundo do Heavy Metal. No Brasil W.A.S.P. "30 Years of Thunder" é traduzida por Willba Dissidente e publicada primeiramente no Whiplash.net
W.A.S.P. "30 Anos de trovão" - Parte três
"Outono de 1982...... nossa primavera(*)"
Aquele último show foi muito bom e nós estávamos desfrutando de seu pôr-do-sol, com um sentimento de que começavamos a encontrar nossa verdadeira direção. Ainda que houvesse menos de 100 pessoas naquele show, as coisas mudariam rapidamente com a platéia dobrando a cada novo espetáculo. Entretanto, era claro que nos éramos orfãos musicais em relação às grandes gravadoras, ao menos até nos conseguirmos fazer barulho o sufiente para forçá-los a prestar atenção em nós (eu quero dizer PAGAR $$)(**). Então, se um selo de gravação não nos adotasse de imediato, teriam de ser as pessoas. Isso que aconteceu. Fizemos isso do modo anitgo. Nós levamos (nossa música) para a garotada e os deixamos decidir se valia a pena. Um dos caras da nossa equipe tinha uma oficina que seu pai tomava conta e era um ateliê completo em carpintaria e serviços de metal. Ficamos meses lá, dia após dia, noite após noite, trabalhando em qualquer idéia que pudessemos sonhar. A primeira coisa que construimos foi o "rack da tortura" que nós usávamos com a garota semi nua, que seria chamada mais tarde de "a garota do rack" (***).
Ao longo dos anos, 5 garotas diferentes encenaram esse número. O som "Tormentor", no nosso primeiro disco, foi escrito especificamente para essa parte do show. No show business esse tipo de coisa é chamada de "gags" (mordaça). Era isso que fazíamos na oficina; aparecíamos com tantas "gags" quanto conseguissemos para criar um bombardeio visual na platéia. A maioria dos shows de rock quando terminam, as pessoas saem do local todas empolgadas e falando alto; como nos começamos a gostar da direção que íamos, eu queria fazer outra coisa. Eu queria galera saindo do nosso show capaz de ouvir um alfinete cair. Eu queria o público rodando o video tape na cabeça de trás para frente e perguntando a sí mesmos: "o que no mundo eu acabei de assistir"?
Agora que tudo isso foi dito, eu sabia que seríamos tidos como uma "Shock Band", mas eu queria mais. Eu queria fazer uma afirmação social. Eu queria fazer as pessoas pensarem. Pensar a respeito, não do que elas acabaram de ver, mas como isso era aplicado a vida delas. Se (o que fazíamos) fosse somente "choque por interesse em chocar" então isso, como eu disse antes, seria incrivelmente entediante com absolutamente sentido nenhum. Então, o resultado da observação social era meu modo de dizer ao mundo, "Hey, se você não gosta do que vê nessa banda, não nos culpe, nós somos tão somente uma reflexão, um espelho, se quiser, do que esta acontecendo no mundo real". Vendo em retrocesso agora, NINGUÉM entendeu!! Ninguém pegou a mensagem e tenho certeza que mesmo que (eles) entendessem, me veriam como tentando ser "convencido, bem-pensante e hipócrita". Nada disso ficou claro para mim até uns dois anos depois.
De volta à oficina. Depois do "rack" estar pronto, a próxima coisa que começamos foi a "placa em chamas" do W.A.S.P. Essa coisa era uma monstruosidade própria. Não apenas tinha essa aparência quando pronta, como igualmente foi mostruosa de se fazer. Nenhum de nós, e digo NENHUM, tinha a menor idéia de como montá-la ou fazer funcionar. Por falar em tentativa e erro... Primeiro, nós fizemos as letras W.A.S.P. de compensado de madeira e depois colocamos as cabeças de parafuso para fazê-las parecer como o logo dos primeiros flyers de divulgação. Então veio a moldura para o propano (combustivél) que ficava em volta das letras. O problema era que o tubo de metal que emoldurava as letras tinha buracos perfurados a uma polegada de distancia, em toda extensão de dentro da moldura para o propano sair. Não sabíamos que precisávamos pressão IGUAL por toda moldura. A pressão é o que faz todas chamas iguais em tamanho. Todos tanques de propano tem uma valvula de desligar e o que chamamos de ladrão de faísca. Tanques de propano são seguros com essas duas coisas, mas se retirados, você tem potencialmente uma bomba em mãos, por que as chamas podem às vezes voltar para dentro do tanque. Se isso acontecer... BANG!!! Eu não estaria escrevendo agora!!! Faria todo o prédio cair, mas era o ÚNICO meio de fazer a coisa funcionar, então adivinhe... Algumas noites quando tocávamos no Troubadour, as chamas iam tão alto que queimavam as vigas de madeira acima do palco. Só pela Graça de Deus que não tivemos um problemão!!! Até hoje você consegue ver as marcas de queimado no caibro das vigas de madeira.
Depois nós ainda descobrimos que a placa ficava tão quente que fazia as pessoas beberem mais...muito mais!!! O (pessoal do) Troubadour sabia disso também e era só ameaçarmos não usar a "placa em chamas" que eles nos pagavam mais dinheiro! Nós estabelecemos recordes para vendas de álcool que nunca foram quebrados.
Foi numa tarde enquanto estávamos na oficina, apoiado contra uma janela, que vi uma lâmina de serra redonda de 12 polegadas. Eu olhei aquilo e comecei a rir. Os outros olharam pra mim e indagaram o que era tão engraçado e eu disse, "imagina como aquilo ficaria no meio de minhas pernas"? Um meio sorriso louco brotou no rosto deles. Isso era para ser a coisa mais legal do mundo ou a mais idiota de todas. Você precisa lembrar, nada assim havia sido feito antes. Então, isso é legal ou isso é IDIOTA? Só um meio de descobrir! Nós fizemos um molde de papelão como um modelo e cortamos a lâmina de metal no maçarico para servir em mim. Eu entrei usando isso no próximo show e o lugar enlouqueceu!! Em retrocesso agora, você pode perguntar porque eu estava preocupado. Eu me senti realmente pegando uma grande chance. Pouco sabia que nossa marca registrada estava nascendo. As lâminas nos braços foram adicionadas depois meio que para completar o conjunto!! O jogo inicial em soma à lâmina também tinha grandes parafusos saindo e eu também tinha uma luva de braço combinando com o mesmo tipo de parafusos. A idéia de não saber se isso era, ou não era, uma boa idéia parece engraçada agora, já que existem todo tipo de banda que tem pregos e parafusos saindo dos seus trajes de palco, mas quando ninguém havia feito isso ainda, você sempre indaga se vão tirar sarro de você no palco.
Enquanto TUDO isso acontecia, a banda ensaiava. Eu contava a estória antes, mas até agora ela parece inacreditavél. No comecinho, nos ensaiávamos numa garagem de dois carros, mas isso só durou um mês. Então nós mudamos para uma esteira abandonada de lavanderia por um mês. Para todo mundo fora dos EUA, esse é um lugar que você leva suas roupas para serem lavadas. Uma pena que as máquinas não funcionavam porque naqueles dias roupas limpas eram díficeis de aparecer. Imagine parar no meio do show para jogar outra carga!, mas não tivemos tal sorte. Como nota de rodapé, a esteira de lavandeira era localizada na esquina da Santa Monica Boulevard com a Rua Vine em Hollywood. A razão pela qual menciono isso é que do outro lado da rua era o prédio que eventualmente contruiríamos o "Fort Apache" estúdio, onde o primeiro álbum gravado foi o "The Crimson Idol". Honestamente, indo de um lado para outro dessa rua era uma das maiores caminhadas que eu fazia.
O próximo lugar que ensaimos ninguém acredita, até hoje, quando eu conto. Nós achamos um lugar que vendia produtos de fazenda e tinha grandes unidades de refrigeração onde eles estocavam leite, queijo e carne. Sim, nos estavamos ensaiando num frigorífico!! Ele ainda tinha os ganchos na parede pendurado carne. Era um espaço bem pequeno, por volta de 2X6 metros e a temperatura era mantida em por volta de 03 graus Célsius (38 graus Farenheit) e você podia ver sua respiração. Quando davamos pausas estavámos suadsos e você podia ver as gotas caindo de nossos ombros e cabeças. Custava somente $25 por semana e estivemos lá por volta de dois meses. Quando contávamos que a banda atacava carne crua na platéia ensaiava num frigorífico ninguém acreditava. Essa é uma estória verdadeira!!
Tocavámos no Troubadour batalhando nosso caminho das noites de terçaa para as de quarta, para as de quinta até as de sexta-feira, para então chegar a tocar nas noitadas de sexta e sábado. Tudo num período de quatro meses. A cada show a platéia aumentava. Muitas noites vendiam mais ingressos que o lugar comportava. Haviam um set de duas grandes portas na entrada. Algumas noites as portas ficavam abertas para lidar o tosquiado volume de pessoas e do palco eu conseguia ver gente de pé no meio da Santa Monica Boulevard (é uma pista dividida de 04 vias) e haviam 100 ou mais pessoas de pé que não conseguiram ingressos. Eu virava e cantava para eles na rua e eles enlouqueciam!! Tenta imaginar isso. Eu nunca havia visto algo assim. Era muito incomum, mas outra vez, incomum era a banda.
A revista local de música era Music Connection, que semanalmente publicava a lista dos grupos que mais vendiam ingressos em Los Angeles. Eventualmente, nós nos tornamos a banda número um. NÃO tinhamos dinheiro, mas parecíamos ter MILHÕES!!!! Tudo das coisas que nasciam na oficina... Obrigado, Kirk!
De lá nós mudamos para lugares maiores e então teatros e menos de onze meses depois de nosso primeiro show nós tocávamos no Santa Monica Civic Arena (3.000 lugares). Nós estávamos conectados com a audiência e cresciamos rapidamente. Era demais para a banda que nunca teve a intenção de tocar ao vivo (antes de conseguir um contrato de gravação)!
Tudo isso sem um empresário e SEM COMPANHIA DE GRAVAÇÃO!!!! Agora nós éramos grandes demais para eles recusarem prestar atenção na gente por muito tempo. Em pouco tempo, a EMI / Capitol Records viria nos chamar!!!!
Mais mês que vêm!!!
B.L.
Notas do tradutor:
(*): A exemplo da edição anterior, Lawless usou como título uma expressão de diversos significados. A tradução literal, e uma das muitas possíveis, seria "Cai 1982...... e a ascensão", porém quis manter o viés poético que o lider do W.A.S.P. empregou na frase.
(**): Prestar atenção em inglês é dito "Pay Attention". "To pay" também é o verbo pagar. Lawless usou um trocadilho impossivél de traduzir em seu sentido completo : "...they would be forced to pay (and I mean PAY $$) attention to us".
(***): Além da palavra rack significar cabide, móvel, o verbo "to rack" tem a tradução de torturar. Por isso na edição do mês passado traduzi como "cabide de tortura", porém com o advento da "rack girl", resolvi mudar a expressão para "rack de tortura" e acrescentar "garota do rack", por acreditar que assim o sentido das palavras é mais coerente.
Fonte desta matéria (em inglês): Site oficial da banda
Via Whiplash!
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